sábado, 26 de abril de 2008

Episódio III


Era atual Os dedos de Kagome tamborilavam na mesa da lanchonete. Na sua frente estava um lindo sorvete decorado de chocolate que por mais tentador que fosse não lhe despertava o menor apetite. Já havia se passado semanas deste que vira Inuyasha pela ultima vez, mas ainda sentia-se como se o ultimo encontro tivesse acontecido ontem... Semanas... Quem foi o infeliz que inventou que o tempo cura tudo? Porque o tempo não curava seu coração que ainda sangrava? Inferno... O que será que ele estava fazendo naquele momento? Provavelmente estava curtindo sua nova vida com Kikyou, sem ela para incomodar. Respirou fundo e tentou ser racional. Desejava-lhes felicidades! De triste, já bastava a vida dela! E também, ninguém é obrigado a amar alguém! Ninguém precisa corresponder um sentimento... E ela sempre soube que Inuyasha nunca correspondeu aos seus... foi apenas um peso para ele. -Kagome.. O que você acha? Ela olhou para o rosto de Eiri, sua amiga, assustada. -Desculpe, do que você falava? Junto com Kagome estavam suas três melhores amigas na era atual. Elas haviam percebido como a colega estava triste nos últimos dias e praticamente arrastaram Kagome para uma sorveteria perto de uma praça. Era um local agradável e a vontade delas era que Kagome se sentisse bem ali. -Kagome, porque você anda assim? Você brigou com seu namorado de novo? – perguntou Yuka. Ela suspirou. -Não... Nós não estamos mais juntos. – ela disse o obvio. Deus, como aquilo lhe doía falar. Ela havia feito de tudo para estar junto dele, sacrificou momentos, acabou com seu orgulho, engoliu sua tristeza... mas foi tudo em vão. Ela sentiu que uma das amigas colocou a mão sobre a sua. Era bom pelo menos ter aquele conforto. Não havia sido fácil para Kagome agüentar tudo, mas agora ela podia pelo menos ter paz. O tempo... O tempo iria ajuda - lá. Iria trabalhar em seu favor para que um dia a ferida aberta pelo meio youkai se fechasse. -Kagome...- falou uma voz conhecida as suas costas. Ela virou-se e olhou Houjo. O jovem rapaz sorria para ela. Kagome não sabia que ele iria à sorveteria, mas uma presença masculina naquela hora talvez fosse algo positivo. Não estava sozinha. Tinha amigos. E mesmo na era feudal havia sentido o apoio de Sango, Miroke e Shipou. Quanta falta aqueles três faziam. Kouga e Kaede também. Ela gostava tanto de conversar com eles... Mas devia esquecê-los. Assim como Inuyasha, eles eram parte do seu passado. -Boa noite Houjo. Ele sentou-se ao lado de Eiri e também pediu um sorvete. O tempo transcorreu tranquilamente. Ouvir historias da escola, da ultima briga, do ultimo namoro... Enfim, coisas da sua idade, era ate engraçado, já que ela ultimamente havia apenas pensado em coisas mais adultas. Duas horas mais tarde e enfim o sorvete de chocolate acabado, o grupo se levantou e saiu do local. Lá fora o tempo era frio e contrastou bem com o calor de dentro do estabelecimento. Kagome colocou um casaquinho sobre o vestido e deu o braço a Yuka sorrindo. O grupo falava de futilidades e Kagome riu varias vezes. Uma alegria vazia, porque ela sabia bem que assim que chegasse em casa iria chorar muito sobre o travesseiro. Mas pelo menos naquele momento.. ali.. ela apascentava seu coração. -Kagome, posso falar em particular com você?– Houjo perguntou As quatro meninas o encararam. De repente, Eiri falou como se tivesse recebido um sinal invisível. -Meninas, vamos embora... – e as demais concordaram. -Não precisam ir. Houjo fala comigo ali na praça rapidinho e logo voltamos. -Já esta tarde. –disse uma delas. - temos que ir de qualquer maneira. Segunda a gente se vê na aula. E desapareceram na esquina. Kagome esfregou os braços que já estavam gelados e seguiu Houjo ate a praça. Ele estava estranho e durante a conversa na sorveteria trocava sinais com Yuka. Claro que isso não passou despercebido para Kagome, que percebia o jeito dos dois, mas não conseguira decifrar o que tanto falavam por códigos. Houjo ficou em pé próximo a um banco laranja. Ela sentou-se nele pronta para ouvi-lo. Estava curiosa porque era a primeira vez que ele se portava daquela maneira com ela. -Sim? -Eu soube que você não esta mais com seu namorado. Como as noticias corriam! Mal acabara de falar aquilo para as meninas na lanchonete e Houjo já sabia. Na verdade, eles deviam ter suspeitado naquelas semanas em que ela se portara tão triste. Mas enfim... na verdade, Inuyasha nunca foi seu namorado. Era um melhor amigo, no qual ela era completamente apaixonada. -Sim – ela balbuciou. Ele a olhou e se ajoelhou perante ela. Kagome percebeu o que ele iria dizer e ficou completamente encabulada. Precisava evitar aquilo antes que Houjo sofresse. -Kagome.. eu... Há muito tempo... Desde que troquei de escola... Desde que a vi pela primeira vez... -Houjo- ela adiantou-se tentando evitar que ele falasse. -Tire essas mãos sujas dela! O coração dela quase parou no peito. Trovoes ecoavam próximos por causa da chuva que se aproximava, mas Kagome não saberia dizer se era sua alma gritando ou os fenômenos da natureza. Ela levantou-se do banco meio cambaleante, tamanha a surpresa. Inuyasha... Ele estava ali. E completamente irado. Ela sabia que ele sempre sentia ciúmes dela, mas também tinha consciência que este sentimento se assemelhava a alguém que tem um objeto que não usa, mas que tampouco quer que os demais o toquem. Seria inútil ter esperanças com ele, porque ela sempre sabia qual era o final. -Já mandei tirar estas mãos dela. –ele aproximou-se bufando. O meio Youkai havia colocado o boné que ela havia dado a ele para usar quando ele viesse a sua era. Ficava adorável com ele, isso ela não podia negar. Houjo, incrivelmente apertou as mãos de Kagome entre as suas. Um ato de estrema coragem para alguém como ele. Kagome sentiu lagrimas nos olhos. Ele era adorável. Porque não podia amá-lo? Seria tudo mais fácil. Mas a vida não era fácil e ela tentava se controlar para não correr ate Inuyasha. Ir ate ele? Não! Burra! Sempre usada, sempre sendo tratada como uma cachorrinha chutada pelo dono, mas que mal podia esperar para vê-lo para balançar a cauda. Não desta vez! Esta Kagome não existia mais! Ela havia morrido da ultima vez que Inuyasha a desprezou para procurar Kikyou. -Inuyasha – ela resolveu se manifestar – o que faz aqui? Ele percebeu que ela não largara da mão daquele idiota. Ficava louco quando a via com outro, mesmo sabendo que ela o amava. Droga, porque não ligou os sentimentos? Deveria ter percebido antes que seu ciúme era resultado da paixão que sentia por ela. Ela respirou fundo aguardando a resposta dele. Ele quase sorriu ao perceber que ela sempre respirava daquele jeito quando estava zangada. E também estava linda, isso ele não deixaria de notar. Não era a toa que aquele imbecil quase babava perto dela. E que inferno que ela não soltava as mãos dele. Aqui um pouco ele iria perder a calma e daí aquele atrevido iria ver uma coisa. -O que esta fazendo aqui? – ela perguntou novamente. -Eu é que pergunto isso – ele retrucou- o que faz sozinha no meio do mato com este cara? -Não é “meio do mato”, é uma simples praça e fico sozinha com quem quiser! Você não manda em mim. – ela virou-se para o outro lado e caminhou puxando a mão de Houjo, dando as costas para Inuyasha. -Uma ova que vai ficar sozinha com este cara. Ela achou que ele blefava, mas notou surpresa que ele a puxou pelo braço. Houjo então se colocou entre ela e Inuyasha. Sentiu a tensão entre os dois homens e resolver recuar. Não queria que Houjo saísse ferido de alguma forma por causa dela. Um relâmpago ecoou no ar quando ela tomou uma decisão que possivelmente iria se arrepender mais tarde. -Não Houjo! Por favor, me deixe sozinha com ele. Precisava que o amigo fosse embora! Não queria que algo acontecesse a ele. Inuyasha era violento quando irritado e apesar de saber que jamais correria perigo com ele, o mesmo podia não acontecer com o colega da escola, principalmente porque ele enfrentava claramente o meio youkai. -Houjo, eu tenho uma coisa para falar com ele e quero privacidade. – decidiu ser enérgica, porque sabia que o amigo não iria recuar. -Tem certeza? -Absoluta. Pode ir. A contragosto o rapaz de cabelos castanhos resolveu obedecer a menina. Ele saiu da presença deles. Kagome o seguiu com o olhar ate ele sumir da praça, mas Inuyasha não tirou os olhos dela nem por um minuto. Quando ela voltou o olhar para ele, perguntou: -Como me achou? O vento ficou mais forte. A tempestade cairia a qualquer momento. Esperava que aquela conversa fosse breve. -Pelo cheiro. Ela franziu as sobrancelhas. Típico dele. - E o que quer? “Quero você! Eu te amo há tanto tempo, mas era tapado demais pra perceber. Perdoa-me, fica comigo, não quero mais nada na vida, só você... conceda-me este presente”, Inuyasha pensou. -Você foi embora sem falar comigo. Droga, não era isso que queria dizer! -Sango não avisou que eu não queria ver você? -Ir embora pra sempre é uma decisão muito enérgica. –ele retrucou. Ela riu. -Eu pensei bem... e foi o melhor pra mim! Ela estava decidida, ele percebeu. Como convence - lá do contrario quando ele mesmo sabia que o melhor para ela era ficar longe dele? -Fica comigo Kagome- ele murmurou. Foi tão baixo que ela quase não ouviu. Mas aquelas palavras não despertaram nela a costumeira felicidade. O coração dela se fechou. Criou-se um murro em volta de si para se proteger daquele homem! -Vá embora! Os primeiros pingos caíram, mas nenhum dos dois percebeu. -Acabou. - ela disse secamente. E caminhou na direção contraria saindo da praça. Inuyasha a acompanhou com os olhos. A maneira como ela lhe dissera aquilo... Os olhos dela não expressaram nada. Ela que sempre chorava por ele agora estava vazia. E a culpa era dele. Havia perdido a melhor amiga e a mulher que ele amava por sua própria incompetência. -Não! Ele nunca aceitaria isso. Não podia! Perder Kagome seria pior que morrer. O que lhe restaria na vida sem ela? Aquelas ultimas semanas já haviam sido o pior pesadelo que havia experimentado na vida. Imaginar viver o resto da sua existência daquele jeito era inaceitável. De repente algo ao longe lhe despertou esperanças. Ele viu Kagome secar o rosto com a mão. Secava lagrimas? O mais provável era que secava a chuva que já caia fortemente. Mas ele não queria nem pensar nisso. Correu até ela como um desesperado. -Kagome. – falou quando a alcançou. Droga! Ele a havia visto chorar! Inferno! Estava ate mesmo satisfeita consigo mesma porque havia reagido a ele bravamente. Tentara demonstrar frieza, mas seu coração estava esmigalhado. E quando estava quase tudo acabado, ela deixara as lagrimas correrem soltas. Achou que a chuva pudesse camuflar o pranto, mas se enganara. -Por favor, Kagome... Existia algo na voz dele, uma suplica. Então ela o olhou. Este foi seu erro, pensaria ela mais tarde. Vê-lo era algo que a machucava e a curava ao mesmo tempo. Porque tudo isso? Que amor que arde e machuca é este? Ela não gostava de sofrer. Tinha que colocar um ponto final em tudo agora, mas não conseguia. -Me deixa cuidar de você – ele falou devagar. O hálito dele entrou dentro dela... Kagome quase gemia só de ter o corpo tão próximo ao dele, mesmo que não se tocassem. -Vá embora! “Não.. não!!!Fique.. me ame... por favor... Uma única vez faça com que eu seja mais importante que Kikyou...” -Eu quero ficar com você Kagome. -Vá embora ago...! A chuva aumentos de tamanho engolindo a ultima palavra de Kagome. A chuva e os soluços que ela soltava. Por que ele não ia? Seria divertido brincar com ela desta maneira? Ela reagiu com um sobressalto quando ele ergueu seu queixo olhando dentro dos seus olhos. O Boné dele não o protegia do temporal e ele também já estava todo molhado. Naquele momento Kagome só enxergava a boca dele, úmida, convidativa. -Vou tirar você desta chuva. Não quero que fique doente! Então ele a ergueu. Ela ate tentou lutar contra ele, mas sabia que seria impossível. Inuyasha sempre fazia o que queria. Uma corrente elétrica passou pelo corpo do Youkai quando ele sentiu o corpo dela encostado no seu. Queria proteger Kagome da chuva e sabia que ela poderia ficar a noite toda discutindo, portanto achou melhor a carregar ate em casa. Seria mais rápido e ele sentia saudades dos tempos que a levava nas costas para todos os lugares. -Por quê? Por que faz isso comigo?- ele a ouviu falando. Ele poderia dizer a mesma coisa. Porque não o perdoava como das outras vezes? Daquela vez seria tudo diferente. Agora ele não tinha mais duvidas..ele a queria...ele a amava. De repente um desejo louco tomou conta de Inuyasha. Um desejo devasso de partilhar a cama com ela todas as noites, de ter filhos, de zelar pelo conforto e felicidade dela. Imagens dos dois se amando, cuidando de pequenos youkais, andando de mãos dadas... começaram a surgir na sua mente. Seria um sonho maravilhoso, mas Kagome tinha o poder de lançar estes sonhos contra as paredes da realidade se não o perdoasse. Olhou para a menina em seu colo e percebeu que ela dormia. Quando a viu na praça conversando com aquele cara, percebeu as olheiras em seus olhos. Era provável que ela estava dormindo mal todas aquelas noites, e a culpa era dele. Quando chegou à casa dela, abriu as janelas como estava acostumado a fazer e a colocou na cama. Precisava tirar aquela roupa molhada, porque senão era capaz de ela pegar uma doença grave, mas a tortura já estava sendo grande demais. Ela dormia em sono alto quando ele se ajoelhou perto da cama e a beijou. Doce.. sua corajosa Kagome. Linda... que saudades daquela boca.. daquela voz. Num salto ele saiu de perto dela. Estava enlouquecendo.. ficando igual ao Miroki. Se a beijasse novamente seria com ela acordada. Decidido, saiu do quarto dela e foi procurar a mãe de Kagome para que ela pudesse trocar-lhe a roupa. Continua...

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