sábado, 26 de abril de 2008

Episódio II


Era feudal.

Um dia... Dois... Três... Semanas... Onde ela estava que ainda não havia voltado? Ele não podia acreditar que ela o abandonara. Como pode ter feito isso com ele? Kagome havia engolido o próprio orgulho por amor tantas vezes que ele não compreendia como ela não estava ali agora.

Ele fora atrás de Kikyou em tantas ocasiões e ate já a beijara na frente da Kagome, mas mesmo assim a menina sempre o perdoava e continuava ao seu lado. Kagome era aquela que lhe dava forças, que acreditava nele, que chorava por ele... A amiga... A pessoa que ele mais confiava, mas ela não estava mais ali... E ela não retornaria. Nunca mais. Sango estava certa. Kagome havia abandonado Inuyasha. E quem poderia culpa - lá? Se tivesse o mínimo de juízo já teria feito isso antes. Mas não, preferiu agüentar todo aquele tempo sofrendo calada. Ninguém suporta tanta dor assim...

Mas agora a dor não vinha dela. Era dentro dele, no coração, que a agonia era mais intensa. Céus... Como viver sem ela? Sem a voz dela? O calor? O cheiro? Como ele fora tolo em deixa - lá sofrer tanto? Nunca a mereceu, é verdade, mas mesmo assim, não conseguia imaginar a vida sem ela.

Estranho isso... Passara tanto tempo longe de Kikyou, mas esta saudade, esta urgência doentia não se manifestava com a sacerdotisa. Só sentia saudades dela quando alguém tocava em seu nome. Deste que Kagome havia ido embora os outros evitavam falar dela na frente de Inuyasha, mas ao contrario do que aconteceu com Kikyou, de Kagome ele sentia falta todo o tempo. Via seu rosto entre as arvores, ouvia sua voz, sonhava com ela... Não agüentava mais a falta que ela fazia. Mas como poderia ir atrás dela? Busca - lá só para faze - lá sofrer? Que ser repugnante era ele que ardia de ciúmes dela cada vez que outro homem se aproximava, mas não era capaz de ser fiel a alguém que ele adorava tanto? Não a merecia! Ir atrás dela seria o mesmo que admitir que não a respeitava, afinal, lá na era dela, Kagome poderia esquecê-lo, recomeçar... Ela iria parar de sofrer...

Imerso nestes pensamentos ele sentiu uma mão macia deslizar pelas suas costas e adentrar para frente do seu corpo. Logo depois uma cabeça se se encostou ao seu dorso. Kikyou... Não a percebera chegar? Kagome estava deixando-o maluco.

-Inuyasha – ela suspirou.

Ele se virou e ficaram os dois frente a frente. O mesmo rosto de Kagome... Eram tão parecidas, mas não eram a mesma pessoa. Tão iguais, mas tão diferentes.

-Kikyou... Não vi você chegando.

Que estranho. A presença dela subitamente o incomodou. Isso nunca havia acontecido antes.

-Vim porque eu soube que ela se foi.

Ela viera para consolá-lo? Aquela idéia lhe pareceu tão estranha. O confortar era uma característica de Kagome, não de Kikyou.

-Sim... Ela se foi. –ele murmurou.

Surpreso ele a viu sorrir. Kikyou então não era capaz de perceber que Kagome era no mínimo a melhor amiga dele, e que a perder lhe doía? A menina da era atual sempre compreendia a felicidade dele quando tinha noticias da sacerdotisa. Kagome era generosa. Kikyou não. Kagome era melhor que Kikyou.

Deus, que pensamento! Estava realmente fora de si.

-É melhor assim, ela sempre nos atrapalhou. Tola, ate mesmo um pouco burrinha. Mais gritava que ajudava. Este não era o local certo para ela.

Neste momento imagens começaram a aparecer na mente de Inuyasha. Momentos como Kagome fazendo comida, fazendo curativos na Sango, acariciando Shipou ate ele dormir, dando palavras de otimismo a Miroki quando este desanimava, cuidando de Kouga quando ele se feriu... Trazendo as batatas fritas que Inuyasha tanto gostava. Mais atrapalhou? Não... Não era verdade. Kagome havia sido um ponto crucial na batalha contra Narak.

-Como você pode dizer algo assim? – falou a Kikyou - ela salvou você quando estava na caverna, ou quando foi ferida por Narak. Nunca vi Kagome tentar lhe prejudicar... Como pode falar assim?

Surpresa, a sacerdotisa calou-se. Errara em falar desta maneira, percebeu. Claro que detestava a amiga de Inuyasha, principalmente porque a garota não fazia segredo dos seus sentimentos pelo meio youkai. Falara sem pensar, coisa incomum vindo dela, algo aliais que não se repetiria. Mas agora, ainda bem, não mais existia Kagome para lhe despertar ciúmes.

-As mulheres ficam despeitadas quando tem uma rival – ela disse com um sorriso – é um sentimento normal, amor. Mas agora tudo acabou. Estamos juntos. E também nem havia mais motivo de ela vir a esta era. A guerra acabou.

Ouvindo aquilo, Inuyasha virou-se de costas. Kikyou tinha razão. Estava tudo acabado mesmo. Ele nem achou mais necessário falar das vezes em que Kagome sentia ciúmes, mas preferia ficar sofrendo sozinha, jamais atacando Kikyou.

Kagome era assim. Ela jamais deixaria de fazer ou agir da maneira que achava correto. Nem por Inuyasha, nem por ninguém. Sofria, mas não transformou seu sentimento em algo feio. Ao contrario, Inuyasha sabia que ela havia guardado ele em seu coração em um local especial sem deixar-se contaminar por ciúmes, contentas...

De repente Kikyou puxou seu rosto e o beijou. Os lábios dela eram frios, mas ele sempre os achou agradáveis. Com exceção desta vez! O que estava acontecendo com ele? O calor que sempre sentia ao beijar aquela mulher não ocorreu. Era como se ele estivesse beijando uma boneca. Alguém morto. Não existia fogo. Não existia nada.

Mas ele não a amava? Não havia deixado Kagome ir embora por causa dela? Então porque não podia corresponder a um beijo tão ardoroso quanto o que a sacerdotisa o dava agora.

-Estamos juntos agora Inuyasha... Não sofra... –ela gemeu entre os dentes, compreendendo mal a reação dele.

Estavam juntos? Não... Ele queria estar com Kagome. Ele precisava da amiga... Da menina que transformava os momentos mais bobos em algo especial. Ele precisava da Kagome em quem ele podia ser ele mesmo, sem precisar cuidar o que falar e como agir, coisa aliais que sempre ocorria com Kikyou. Por mais ingênua que fosse Kagome, era ela que lhe despertava a paixão.. Sim, era ela que ele queria.

Uma forte vontade de se afastar de Kikyou o tomou. Não suportaria mais beijar a ex namorada sem magoa – lá. Quando a empurrou delicadamente, pode perceber que enfim ela percebera sua decisão.

-Tarde demais... – ela murmurou desconcertada - ela não vai voltar pra você.

Mesquinha! Ela sabia! Ela sabia dos sentimentos dele, ate mesmo quando ele, um idiota, não havia percebido isso antes. E deixou que ele se enredasse nesta teia de enganos sem ao menos tentar ajuda-lo. Que amor era esse? Amor sem abnegação não existe! Inuyasha sentiu lagrimas nos olhos ao perceber que Kagome nunca deixaria que ele se perdesse assim. Mas ele havia trocado seu verdadeiro amor por uma mentira. E aquela mentira estava na sua frente agora, bufando de raiva.

-Não, não é tarde demais.

A voz não veio da dupla que se encarava e sim de uma arvore. Shipou assistia a cena a certa distancia e quase desmaiou a perceber que Inuyasha acabara de se decidir por Kagome. Os dois eram como pais substitutos pro menino, e ele amava a moça que nunca se esquecia dos seus doces.

-Vai atrás dela Inuyasha...

Ele nem esperou o menino falar duas vezes. Que Deus o ajudasse! “Só mais uma vez, Kagome, só mais uma chance... e eu juro que nunca te decepcionarei novamente.”, pensou enquanto entrava no poço que ligava os dois mundos.

Continua...

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