quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Ao meu irmão Frei Tito....


Ao meu irmão Frei Tito
Colaboração de amigos
CORDEL
Frei Tito e o Dragão
Zé Vicente

In: Caderno do CEPE, setembro 1988.

Meu Jesus dos Pequeninos
Toque no meu coração
Para tecer versos finos
Com coragem e decisão
Sobre história verdadeira
Desta Pátria brasileira
Que a gente teima esquecer
Pois quem se lembra até chora
Mas “quem sabe faz a hora”
Por isso eu vou escrever,

A história que eu conto
Começou em Fortaleza
O mundo vivia tonto
Ressecado da dureza
Pois a guerra mundial
Deixou estrago geral
Na mente e no coração
Dos que governam nações
Cheio de ódio e paixões
Provocando a sujeição.

A 14 de setembro
Do ano quarenta e cinco
Nasce um filho, novo membro
Da família é mais um finco
Para Idefonso e Isaura
Nova alegria se instaura
Os pais dão graças a Deus
Por eles é abençoado
Será querido e educado
Junto aos outros filhos seus.

Tito é o nome recebido
Com o sobrenome Alencar
Logo que ficou crescido
Começou a estudar
No colégio Santo Inácio
E isso não foi fácil
Pois toda luta é pesada
Sobretudo se a gente
Quer um mundo diferente
É duro, meu camarada!

Era um tempo carregado
Sobre o povo e o país
O poder arrebatado
Do controle dos civis
Um general comandava
A nação que suspirava
Por um futuro melhor
E até hoje continua
Na cantiga da perua
“De pior, pior, pior...”

Logo cedo o estudante
Começou a se unir
Formou um grupo importante
Para melhor conseguir
Mais justiça e consciência
Na política e na ciência
Para a nação do Brasil
Era a JEC ou juventude
Estudantil com virtude
Católica, forte e civil.

Por esse tempo o Tito
Sente um forte chamado
Uma voz do infinito
O clama a ser consagrado
Servir ao povo é o convite
E o jovem não desiste
Responde ao Deus soberano
Ao entrar sessenta e seis
Tito escolhe de uma vez
Ser frade dominicano.

Frei Tito nessas alturas
Deixou a terra natal
Foi buscar águas futuras
Em São Paulo, capital
Morando em grande convento
Estudando e bem atento
Na luta estudantil
O povo se agitava
Muita gente já gritava:
“Liberdade pro Brasil!”

O jovem frade estudava
O curso de filosofia
E também participava
Da união que crescia
Ia a manifestação
Fortificando o cordão
Para quebrar as correntes
Que prendem nosso futuro
Nas grades de um grande escuro
Satanás mostrava os dentes.

Um dia a turma organiza
Um congresso nacional
Porque sente que precisa
Descobrir seu ideal
Foi isto em 68
O ditador ficou afoito
Prendeu todos de uma vez
Tito estava no meio
Naquele momento feio
Foi também para o xadrez.

Sendo solto continua
A missão que Deus lhe deu
Entre os irmaõs ou na rua
A justiça defendeu
Bem disposto e contente
Era da turma de frente
Sem medo nem covardia
Defendendo os perseguidos
Defendendo os foragidos
Das garras da tirania.

Novembro sessenta e nove
As quatro, de madrugada,
Enquanto o convento dorme
Sua porte é arrombada
Uma equipe da polícia
Usando rude malícia
Invade o lugar sagrado
Tito e sete companheiros
São agora prisioneiros
Num plano bem maquinado.

Meu Deus de misericórdia
O que houve na prisão
Faz tremer toda concórdia
Faz doer o coração
Aquele jovem é pisado
Cuspido, nu, torturado
Durante uns quarenta dias
Nas mãos de um delegado
Com a fama de malvado
Essas coisas me arrepia.

Chamado de comunista
Blasfemado de impostor
Porque tinha boa vista
Prá ver a face do amor
Que desponta em cada homem
Escravizado ou com fome
Seja de que raça for
Por isto Tito é quebrado
Pelo poder desregrado
Que manda usando o terror.

Fleury era o delegado
Que torturou nosso irmão
Depois Frei Tito é levado
Para uma grande prisão
O presídio Tiradentes
Onde culpado e inocente
Se ajuntam na mesma sina
De sofrer o que vier
Seja homem ou mulher
Lá se produz a ruína.

Uma noite um capitão
Levou Frei Tito ao inferno
Era um quarto de prisão
Parecia até moderno
Gabinete de tortura
Armazém de amargura
Espaço de maldição
Chamavam aquilo de OBAN
Quem ali entrasse
Saia em deformação.

Os seres que lá atuavam
Não tinha rosto de gente
Roupas de sangue usavam
Mordiam que nem serpente
Beliscavam, davam coice
Suas línguas eram foice
Rasgavam o corpo e a alma
Quem viu jamais teve calma
Era o ninho do dragão!...

Sobre o frade tão pequeno
Despejaram a violência
Vomitaram um tal veneno
Que queimava a consciência
Dependurado e batido
Choques nos pés e no ouvido
Socos, murros e pauladas
Na boca deram-lhe fogo
Fizeram um maldito jogo
Entre paredes caladas.

“Meu Deus, meu Deus, socorrei-me”
Clamou Tito na agonia
“Mãe dos aflitos, valei-meQ”
Soluçando ele pedia
“Que crime foi que eu fiz,
Pro governo do país
Me tratar desta maneira?
Pregar o amor e a verdade
Defender a igualdade
Faz mal à paz brasileira?

O dragão não conseguindo
Dobrar a a fé de frei Tito
Continuava insistindo
No seu intento maldito
Queria engolir inteiro
Um discípulo verdadeiro
De Jesus, nosso Senhor
Já quase desesperado
Tito se corta e é levado
Para as mãos de um doutor.

Tudo o que era encapado
Ficou claro e descoberto
O fato foi divulgado
Para longe e para perto
Irmãos e gente de Igreja
Lutam com grande peleja
Por liberdade prá Tito
Ele então foi levado
Ao Tiradentes falado
Começa um outro bendito.

No presídio ele encontra
Os irmãos de caminhada
Muita gente fica contra
Essa injustiça malvada
Frei Fernando e Frei Ivo
Frei Beto, muito ativo
Estão juntos na prisão
O crime que cometeram
É que eles defenderam
Os pobres desta nação!

Em dezembro de setenta
Frei Tito foi libertado
O governo não aguenta
Por isso se vê forçado
Por um grupo guerrilheiro
A soltar prisioneiros
Em troca do embaixador
Da Suiça, sequestrado
Por presos ele é trocado
O Brasil se abalou.

Banido de seu país
Peregrino no estrangeiro
Frei Tito não é feliz
Sofre um cruel pesadelo
Nada lhe traz alegria
Pois em sua companhia
Ficou a sombra esquisita
Daquele torturador
Que lhe bateu e marcou
Com a presença maldita.

No convento lá na França
Tenta estudar, mas não pode
Procura ter confiança
Mas o pavor lhe sacode
Aonde Tito estava
O medo lhe torturava
Um fantasma lhe perseguia
Era o torturador
Que no Brasil lhe deixou
Naquela longa agonia.

Sua irmã do Ceará
Foi lhe fazer uma visita
Frei Tito lhe fez chorar
Naquela dor esquisita
Com muita dificuldade
Ele lhe conta a verdade
E abre seu coração
Diz ele: “Não aguento
Sofrer por mais algum tempo
Quero meu povo e meu chão!”

Disse ainda: “Eu me vejo
Uma pessoa quebrada
Vencer isto é meu desejo
Preciso força dobrada
Agora saia daqui
O torturador Fleury
Pode chegar do Brasil
E me pegar de surpresa
Não suporto essa tristeza”
Chorando a irmã partiu.

Apesar do tratamento
Tito não recuperou
Naquele grande tormento
Un dia desabafou
“A loucura me domina
Meu Deus eu quero outra sina
Tire esta dor do meu rastro”
A dez de agosto é encontrado
O nosso frade enforcado
Foi isso em setenta e quatro.

Os frades seus companheiros
Fazem o sepultamento
Aos vinte e oito janeiros (anos)
Tito faz seu passamento
Pro “Reino da luminura”
Livre do mal da tortura
Nos verdes campos da paz
Lá não existe malícia
Nem o poder da polícia
Tem força alguma, jamais!

No ventro daquela terra
O corpo de Tito dorme
Uma lição ele encerra
Que todo cristão se acorde
E faça sua opção
Pela causa da união
Do povão empobrecido
Que em nosso continente
É pisado duramente
Pelo Grande e seu partido.

Frei Tito não está sozinho
Ao morrer martirizado
Desde Jesus o caminho
Da santidade é levado
Pelo sangue de milhões
Que enfrentaram dragões
Perseguidores da história
Quem amar vai padecer
Disto é bom já se saber
Deus nos garante a vitória!...

No ano de oitenta e três
No fim de março Frei Tito
Viu seu corpo ter vez
De voltar ao chão bendito
A França não destruiu
Sua carne resistiu
Nove anos esperando
Agora dorme entre nós
Escutando a nossa voz
Que lhe venera cantando.

Na catedral de São Paulo
E também de Fortaleza
Ao saber disto não calo
Pois garanto com certeza
Que se calar este canto
Todos verão com espanto
Que as pedras clamarão (Lc.19, 40)
Tito recebe mensagens
Muitos lhe prestam homenagem
É o abraço da nação!

Viva o mártir brasileiro!
Vivam todos os irmãos!
Que passaram no braseiro
De qualquer perseguição
Se sangue é força e semente
De um mundo diferente
Sem dor, sem pranto e sem morte
Bendito o Deus de Justiça
Destruidor de cobiça
Nossa luz e nossa sorte!

Um pouco do que aconteceu com Frei Tito...

O martírio de Frei Tito marca um tenebroso capítulo dos anos de chumbo impostos ao Brasil pela ditadura militar, a partir de 1964. Preso em 1969, ele foi brutalmente torturado pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury e pelos capitães Maurício Lopes Lima e Beroni de Arruda Albernaz. No Presídio Tiradentes, na rua Tutóia, em São Paulo, ouviu do capitão Albernaz, entre choques elétricos e espancamentos: “Se não falar, será quebrado por dentro. Sabemos fazer as coisas sem deixar marcas visíveis. Se sobreviver, jamais esquecerá o preço de sua valentia”. O requinte de sadismo chegou a limites extremos. Em uma das sessões de tortura, o mesmo capitão ordenou-lhe que abrisse a boca “para receber a hóstia”. A hóstia do capitão eram fios desencapados que provocaram choques elétricos na língua do frade.

Trocado pelo embaixador suíço Giovanni Buscher (seqüestrado pela Vanguarda Popular Revolucionária), Frei Tito se exilou na França. Porém, atormentado pelas lembranças dos torturadores, cometeu o suicídio, em 1974.

Sentimentos q estão mais vivos que nunca....

Bm, pra começar tenho a dizer q hj foi um dos dias mais felizes da minha vida... O por que disso: Eu conheci a irmã do Frei Tito de Alencar e tive a oportunidde de ouvi-la falar por um bom imtervalo de tempo. Após o debate fui ao encontro dela e eu estva muito emocionada.. então eu pedi para abraçá-la com um enorme sorriso me disse sim.. não aguentei de tanta emoção e chorei muito(era de se esperar eu sempre choro), parecia que eu estava abraçando o Frei Tito e com cada palavra que ela me dizia me sentia mais forte para enfrentar qualquer problema que apareça no meu caminho... Só tenho a agradecer... Professora Nildes de Alencar Lima, a senhora tornou meu dia inesquecível... Suas palavras marcaram bem no fundo da minha alma... E seu abraço encheu meu coração de paz.... OBRIGADA!!!!!